19.7.02

Girls as a Memetic Infection I
em 26.06.02

“Você tem que esquecer essa mulher.”

Já estava cansado de ouvir a frase. Amigos, pais, conhecidos e amigas disponíveis e dispostas não cansavam de repetir o que ele já sabia. Mas não era só a repetição que incomodava. O fato é que esquecer a tal mulher não era nada simples.

Não era culpa dele, do seu comportamento obsessivo e muito menos de paixão. Era uma constatação simples e óbvia a respeito dela e do efeito que ela fora planejada para causar naquela fatia do mercado na qual ele se encaixava. Mais que uma pessoa, ela era um meme.

Chamá-la de meme era a maneira preferida dele falar sobre quem tirava seu sono por esses dias. Principalmente pela economia: grande parte do seu círculo já estava familiarizado com o termo e suas implicações. Cerca de metade das pessoas que diziam para ele sair, ver um filme, ficar com outra – enfim, pensar em outra coisa – balançavam a cabeça para o que acreditavam ser uma desculpa esfarrapada. Uns poucos, que acreditavam e não se interessavam por esses assuntos, misturavam pena à reprovação.

Outros – principalmente seus pais – debochavam da idéia. Perguntavam seguidamente o que é esse negócio de – “como é mesmo, meu filho?” – meme, preferencialmente naquelas reuniões familiares chatas a que era obrigado a comparecer. O chacoalhar de cabeças após as explicações era o mesmo, quase sempre seguido de algum comentário sobre como esses jovens ficam inventando nome novo para tudo.

Os poucos que sobravam eram seus preferidos. Eram aqueles que entendiam dessas coisas e faziam a pergunta que ele se coçava para ouvir: “como assim?”. Mesmo com a repulsa profunda que sentia por si mesmo ao se transformar num marionete das idéias que a construíram, era um prazer imenso falar sobre ela. Os participantes ligavam suas semióticas, estéticas, psicologias e teorias da percepção, enquanto em algum lugar um engenheiro memético gritava bingo.

Mesmo longe ela continuava se espalhando. Era uma obra-prima.

(continua)