22.1.02

Non-sequitur
em 20.03.00

Lost my love. Got a job. Got a haircut. Lost my mind. Lost my focus. Got some freedom? Found my rage. Lost my peace. Just want to sleep. Can't sleep. Want to run away. There's no place. Lost my dreams. Lost in dreams. Found some power. Lost the will. Caught a cold. Found my doubts. Lost any happiness. Was betrayed. Throwed punches. Heard lies. Spoke the truth. Cried a lot. I still do. Feel so lonely. Can't look up. Can't fight. Lost my power. Found my words. An old love. Lost my reason. Never had one. Fell from grace. From her arms. Lost my pride. Begged so much. Feel so righteous. Feel so much. Made mistakes. Always do. Forgave errors. Always do. Was my best. Not enough. Feel so lonely. The world went away. Falling so fast. Just want to go. Have some rest. Want to fight. Draw some blood. Can't hurt her. Albeit I should. I can't wait. Can't fight. Can't fight time. Everything is tainted by her touch. She's all I want. Miss her so much. Can't go out. Feel afraid. Can't stay in. Stalemate. Lost so much. Never did before. Had nothing before. Still don't. She made me better. Found something I can't hide. Lost so much on her tears. Lost her. Lost myself. Where to go to? What to do? Miss my records. Touch her pictures looking for her. Can't wait. She won't come back. Have my life. Have myself. "Just want something I can never have". Feel like nothing. Want nothing. Be nothing. But I can't. Want to hide. Want something that matters. Can't see any. Nothing to do. No place to go. Feel afraid. Doubt everything. Doubt I can write. Doubt you'll read. Doubt I'll like. Want to go back to her. To her arms. To her face. To her dreams. Dreamt of her lots of times. Sex was false, I could tell. Kisses and words were not true enough. Wake up crying. With dreams I can't cope with. Want to hate. I'm trying to. Don't think I can. Her, I never could. And had reasons. Letdowns. I still believe. Don't know why. Never thought love could be like this. I know I was good. In everything. Can't carry her. Did I try to? If I could, I'd heal me. I'd heal her. She knows that, I hope. But just can't wait. I'll be fit. I'll be fine. I'll work. I'll be better, in everything. Break my shackles. Break my love. Surprise her. She still wants my love. Doesn't want me. Love her so much. Want to hate. Want her back. Want me safe. Thought she had changed. I see the same girl. So there is love still. It was good to say goodbye. Heard things she had never said. Good and bad. Got to hold on to the bad things. So I can let her go. But the good ones are still hangin' around. I want to run. Away from here. Away from her. Away from me. To her. Still don't know what to do. Don't know what I need. Don't know what I want. Don't know what she needs. Don't know what she wants. Just don't know.

Non-sequitur.

15.1.02

Simplicidade
Em 14.01.02

Eu queria simplicidade.

Nada das complicações da mulher com que passei tanto tempo. Linda, brilhante, louca e cheia de neuroses reais e inventadas, que pagavam as prestações do carro do analista. Nada das nossas complicações acumuladas com o passar dos anos e anos juntos e das complexidades e mágoas que obrigatoriamente acompanham. Mais nada daquilo. Algo simples: “menina conhece menino, menina se apaixona, menino se apaixona, felizes para sempre”. Tão sem complicações, volteios ou floreados que não serviria de roteiro para a mais insossa das comédias românticas. Bem diferente do que eu tive com ela.

E foi mais ou menos isso que aconteceu. Algo simples, com uma pessoa simples de prazeres simples. Nada de passar noites brigando, realmente achando importante se aquelazinha do livro traiu ou não traiu, ou sussurrando idéias no escuro no lugar das jurinhas de amor com que se ocupava a maioria. Não era mais isso que queria, como estava acostumado. Mas simplicidade. Acho que foi isso que me fascinou na outra lá.

Havia uma promessa de simplicidade em torno dela. Algo que dizia que tudo seria tranqüilo com ela. Um ar quase pastoril, com aqueles olhos pacientes. Sem complicações, ela se apaixonaria e eu me renderia, mais fascinado pela promessa de nada demais que realmente interessado. Exatamente como aconteceu. Ela não era linda ou brilhante ou louca – eu nem mesmo a achava capaz de alguma neurose. Para simplificar ainda mais as coisas, não era nem pobre nem rica e ganhava mais ou menos o mesmo que eu.

Não era só a simplicidade de alguma coisa nova, a falta de bagagem comum que nós tínhamos. Na verdade o mérito era todo dela. Ela era simples. Algo impossível de explicar. O máximo que poderia iluminar é dizer que ela é sem sofisticação, mas normalmente isso implica em falta de educação ou ignorância; não era o caso. Ela sabia o suficiente, nada além. Não adianta. Ela era simples e pronto.

Com o tempo, descobri que ela foi simples desde que nasceu. Os próprios pais dela se espantavam com isso. A mãe, nada simples, acrescentava bobagens orientais à mistura de corujice e decepção tentando explicar de onde vinha a simplicidade da filha. “Às vezes parece uma santa”. Mas ela nunca parecia uma santa. Acho que nunca conheci ninguém tão humano. O estranho que a simplicidade dela nunca se traduziu em leveza. Para mim, ela trazia a impressão de algo que se arrastava, que nunca acordava, alguma criatura imensa dormindo no fundo do mar. Estranho que é mais fácil explicar isso que simplicidade.

Na verdade, faltava alguma coisa nela. Ou antes muitas coisas. Era por isso que ela se arrastava, era por isso que ela pesava. Por isso que nunca me apaixonei por ela. Ela não era simples por ter deixado de lado aquilo que era excesso, que não servia mais, que não era dela. Ela era simples como o desenho da casinha acompanhada de arvorezinha e nuvenzinha que as crianças fases: uma coisa que ainda não se tornou nada que possa ser realmente julgado.

E nunca foi isso que eu quis. Não sei como pude confundir as duas coisas. Como pude confundir incompletude com perfeição, falta com minimalismo. E não sei quando me dei conta do meu erro. Acho que não houve nenhuma revelação, nenhum momento onde as coisas ficaram claras. Mas sim aquela progressão cretina, onde as pistas vão se acumulando até que você chega no final do filme e se sente uma besta de não ter percebido quem era o assassinato na metade. Todas as pistas estavam lá. Nas histórias sem graça, nas memórias adolescentes sem desequilíbrios, na vontade de lavar a louça e cozinhar porque é assim que ela devia fazer. Eu nem sei mais quando as coisas terminaram.

O pior é perceber, num encontro aleatório, quem atingiu a simplicidade que eu procurava. Pós-louca, pós-prestações do carro do analista, pós-eu. Ela se livrou dos excessos. E eu nem completei minhas faltas.

9.1.02

Amores Fugidios IV: Despertar

Despertaram aconchegados - de modo inocente - como irmãos, não amantes. A cama era grande, proporcional ao quarto de paredes brancas na manhã de domingo. Ficaram desorientados até que o constrangimento os acordou por completo.

Ela e ele, desorientados e preguiçosos, iam fazendo sentido das coisas. Lembrando onde estavas, da festa de sábado dos drinks em copos bonitos e de fragmentos de conversa. E percebendo as roupas fechadas, batom e cabelos relativamente no lugar.

Atrasaram o primeiro olhar, a primeira palavra, estudados de modo a criar distância e pedir desculpas. Falharam. Algo em seus olhos sonolentos os entregava. Convidaram-se para o café na copa bagunçada.

Após os restos, se esgueiraram pela casa, mal contendo o riso pela situação. Um voltou para a cama, o outro para casa. O telefone dela ficou no guardanapo, sobre a mesa.

5.1.02

Amores Mortos IV: Detalhes

Ele não podia ter descoberto num momento pior. Ficava na cama do hotel, se forçando ao silêncio e ouvindo com nojo a respiração. Queria estar em casa - lá, ele a teria acordado para uma nova discussão.

Em vez disso ficava deitado na cama, em sensações indefinidas. O desejo de ir se confundia com o de ficar e torturá-la até que entendesse. A culpa era dela, afinal - se não tivesse segredos ou soubesse mantê-los, ele dormiria mais profundamente que ela.

Ficava ali, na cama apertada pelo monte que não queria tocar. Bebia e ouvia música com fones, sem escutar ou sentir nada além do peso no peito e na respiração. Ela podia dormir tranqüila: não saberia da descoberta dele até o fim da viagem.

Ele se sentia desolado pela impressão que a culpa era sua, que sua preocupação com a precisão das palavras causara a descoberta. Se acusava de paranóia, tentando dormir. Com outra palavra, ela confirmou tudo, ainda no aeroporto.

2.1.02

Amores Sonhados IV: Névoa

Sabia que os efeitos dela sobre ele eram evidentes. Se sentia transparente e óbvio diante do riso infantil e dos olhos azuis. Se esforçava profundamente para evitar os tremores que ela provocava.

Ele odiava as poucas ocasiões em que a encontrava, apesar de esperá-las ansiosamente. Se sentia uma presa inocente, envolto de forma inequívoca em sua névoa. A cada vez que, entre suspiros, pensava tinha mais certeza: ela era só névoa e olhos azuis.

Ela sabia de seus efeitos sobre ele e fazia de tudo para dispará-los. Usava de toques e risos breves e frases soltas e - acima de tudo - piscava os olhos de serpente. Ele sabia que não podia confiar naqueles olhos, mas adorava a falsa atenção azul.

O pior - e por isso mesmo mais doce - eram os sonhos. A cada encontro era inevitável: sabia com quem iria sonhar. Adorava a névoa neles que o impedia de respirar.