29.6.02

Parábola II
Em 29.06.02

Quando os animais ainda se dignavam a falar com os homens, um monge ouviu do tubarão o segredo para a felicidade. "Nunca pare de nadar. Assim será forte." Percebendo quão sábio era o conselho do peixe, decidiu que não dormiria duas noites em uma mesma cama. E pôs-se a andar.

Passou por muitos lugares, não se afetando por climas ou pessoas, até que seu caminho o levou a uma caverna. Percebendo que não havia outro caminho a não ser aquele já trilhado, ele decidiu explorá-la.

A caverna parecia não ter fim. Se estendia para sempre em profundidade, complexidade e beleza. Passou anos ali, cumprindo seu voto ao mesmo tempo criava um lar. Até que percebeu-se envolvido num canto vago que o chamava para fora da caverna.

Sabendo que ainda tinha muito a explorar e tentando ignorar as belezas da caverna, saiu. E viu as estrelas que tanto sentia falta. Examinou cada constelação até que o sol as expulsou do céu.

Pôs-se a andar de volta para a entrada da caverna. Parou, atingido pela idéia de que dormiria nos mesmos lugares de antes. E concluiu que não poderia mapear a caverna que tanto amava até que conseguisse ignorar o canto das estrelas.

E amaldiçoou sua dualidade.

9.6.02

Ela nos Livros
em 02.06.02

A ausência dela está por todos os lugares. Nos espaços que ela deveria ocupar e na maior parte daqueles onde não esperava sentir a falta. Quase todos os espaços. Inclusive meus livros.

Nada mais natural. Nos cinco anos de convivência – mais ou menos intensa – os livros foram uma parte importante.

Desde minhas primeiras tentativas de aproximação (me escondendo por trás de histórias em quadrinhos), passando pela maioria dos meus presentes, diversos livros desempenharam um papel significativo. Uma forma de chegar mais perto, de dizer algo ou simplesmente um motivo para ligar quando motivos para ligar eram importantes.

A presença dela não está só nos livros que ela me deu, ou nas dedicatórias. Ela se espalha por quase todos. As marcas estão no livro que ela leu ao meu lado enquanto eu dormia durante um fim de semana especialmente tranqüilo. No livro que ela achou estranho que eu comprasse. Naquele – emprestado – que deixei na casa dela junto com uma flor. No que comprei para lermos juntos e sequer abrimos...

Mais que os filmes, mais até que as músicas. Cada livro mais triste para mim pela distância dela. E todos melhores por ela ter estado aqui.