2.1.02

Amores Sonhados IV: Névoa

Sabia que os efeitos dela sobre ele eram evidentes. Se sentia transparente e óbvio diante do riso infantil e dos olhos azuis. Se esforçava profundamente para evitar os tremores que ela provocava.

Ele odiava as poucas ocasiões em que a encontrava, apesar de esperá-las ansiosamente. Se sentia uma presa inocente, envolto de forma inequívoca em sua névoa. A cada vez que, entre suspiros, pensava tinha mais certeza: ela era só névoa e olhos azuis.

Ela sabia de seus efeitos sobre ele e fazia de tudo para dispará-los. Usava de toques e risos breves e frases soltas e - acima de tudo - piscava os olhos de serpente. Ele sabia que não podia confiar naqueles olhos, mas adorava a falsa atenção azul.

O pior - e por isso mesmo mais doce - eram os sonhos. A cada encontro era inevitável: sabia com quem iria sonhar. Adorava a névoa neles que o impedia de respirar.