29.12.01

Amores Irreais III: Cartas

Ela não era muito de escrever cartas. Escrever - qualquer coisa, por mais insignificante - a incomodava. Seus amigos recebiam livros sem dedicatórias e cartões com assinaturas solitárias. Detestava a permanência das palavras.

Tudo mudou quando ele desapareceu. Saiu um dia e não voltou, inexplicavelmente. A ausência foi preenchida por uma vontade enorme de escrever para ele. As cartas mentiam uma vida roubada.

Escrevia por horas, até suas mãos não agüentarem, quando passava a adicionar acessórios de todo o tipo. As páginas - sempre muitas - falavam tão pouco que poderiam ser simples exercícios de estilo. Ela mesma pensava assim ao postá-las para o distante endereço inexistente.

Continuou por centenas de semanas, com o resultado esperado. Cansou, desistiu e não foi ao correio. "Sinto sua falta", dizia o telegrama.