5.1.02

Amores Mortos IV: Detalhes

Ele não podia ter descoberto num momento pior. Ficava na cama do hotel, se forçando ao silêncio e ouvindo com nojo a respiração. Queria estar em casa - lá, ele a teria acordado para uma nova discussão.

Em vez disso ficava deitado na cama, em sensações indefinidas. O desejo de ir se confundia com o de ficar e torturá-la até que entendesse. A culpa era dela, afinal - se não tivesse segredos ou soubesse mantê-los, ele dormiria mais profundamente que ela.

Ficava ali, na cama apertada pelo monte que não queria tocar. Bebia e ouvia música com fones, sem escutar ou sentir nada além do peso no peito e na respiração. Ela podia dormir tranqüila: não saberia da descoberta dele até o fim da viagem.

Ele se sentia desolado pela impressão que a culpa era sua, que sua preocupação com a precisão das palavras causara a descoberta. Se acusava de paranóia, tentando dormir. Com outra palavra, ela confirmou tudo, ainda no aeroporto.