26.12.01

Amores Mortos III: Espaços Vazios

Ela acordou por conta do sol, já reclamando da cortina aberta. Sem o som do banho ou o cheiro do café, se lembrou. O peso da cama vazia a esmagou: ela deixara a cortina aberta.

Um telefonema não atentido impediu que dormisse. Ficou remoendo tudo o que passara enquanto procurava o leite na geladeira vazia. Ligou a tv, sentou e tentou se convencer que gostava do espaço extra na cama.

Seus dedos começavam repetidamente número dele, sendo impedidos sempre antes de o completar. Passaria uma tarde com seus discos de jazz. O sax ao fundo do pôr-do-sol a convencia que não passaria por aquilo de novo.

Foi ao cinema, sem pensar no título. Não dividiu a pipoca ou o espaço até que se encher do filme e da cadeira vazia a seu lado. Engoliu as lágrimas, só aumentando a vontade de chorar.

As ruas vazias a deixaram com um frio insuportável. Correu para casa e o frio cresceu ao não encontrá-lo. Sentou na cama e decidiu uma vingança: contaria a ele como adora o espaço extra na cama.