24.11.01

Amores Fugidios II: Ônibus

Se arrependia de não ter nada para ler no arrastar do engarrafamento. Costumava enjoar nos passeios de ônibus, mas não havia movimento suficiente nem para isso. E o maldito discman esgotou as pilhas antes de terminar uma música.

Ele fora percebido no instante que sentara, mais pelo livro na mão - um dos favoritos dela - que por sua aparência. Os olhos indecisos ricocheteavam entre ele e o livro. Procurava alguma reação, mas era um daqueles livros de efeitos perniciosos e cumulativos.

Decidira que queria ser apanhada, mas mesmo assim desviava os olhos a cada possibilidade de contato. Faltava o que dizer, a palavra que iniciaria a conversa. Ele disse a primeira palavra, totalmente incongruente, ao pegar os olhos dela nos seus.

Ele deu um sorriso estrategicamente sem graça quando ela explicou o significado. A partir daí a conversa fluiu fácil - e o trânsito rápido demais. Ela ainda se arrepende de ter não ter retribuído o pedido de telefone feito por ele.