11.4.02

Reciprocidade
Em 11.04.02

Tudo que eu queria era reciprocidade.

De qualquer tipo, de todos os tipos. Claro que, inicialmente, dos sentimentos positivos. Reciprocidade de curiosidades, de olhares, de interesses. A ansiedade pelo momento em que ele me olharia como há tempos eu já o via em segredo. O processo lento de torná-lo meu, até que ele achasse que se apaixonou por mim – pela simplicidade sem sentido que ele teima em enxergar – e se aproximasse.

Foi assim que, por um tempo, aconteceu. Ele acreditou que tinha encontrado sua história simples : “menina conhece menino, menina se apaixona, menino se apaixona, felizes para sempre”. A história que ele tanto repetia para mim, como um elogio. Ele nunca soube, mas me ofendia a cada vez que ele repetia o slogan. “Nada demais”, dizia, no fim das contas.

Mas era recíproco. Ele me amava e era suficiente. Por todas as razões erradas, mas era o suficiente. Ele me amava por ficar quieta, por não entender, por cozinhar e mil outras coisa. Mas, mais que tudo, por deixá-lo em paz. Por não ser ela.

Hoje penso se não fiz e enxerguei tudo errado nele. Sempre busquei reciprocidade, manter os dois sem dívidas entre nós, sem raivas, sem nada que pudesse desfazer o equilíbrio. Demorei tempo demais para descobrir que ele não funciona assim. Que ninguém além de mim funciona assim. Quando percebi que estávamos perto demais de só existir indiferença, acabei com um saldo que acabou com tudo. Não consegui não sentir nada por ele.

Mesmo agora, quando não há mais nada, continuo sentindo coisas demais por ele. Raiva, saudades, pena... Até amor. E nada. Nenhuma reciprocidade.

Nem no telefone.