3.4.02

Pulp Hack

Barato, barato. Como um romance de banca. Muito barato. Sujo e sujando os dedos, como todas as coisas que vendiam nas bancas de revista da cidade. Como a própria cidade. Era assim que o escritor queria se sentir, martelando na máquina de escrever. Nada de computadores. Computadores são limpos como hospitais, frios como a noite e várias outras metáforas que ele ficava tentando se convencer que eram verdadeiras enquanto os dedos doíam, nas pancadas fortes para compensar a fita gasta.

As coisas se complicavam ao se somar o whisky que teimava em beber para parecer mais barato. A bebida travava em sua garganta e dava trabalho de botar na garrafinha de metal, mas era isso que seus heróis dentro e fora dos livros bebiam e diziam beber. Não importava o preço. Pagaria o quanto fosse necessário pela bebida barata como as putas que ele pensava de modo meio distante em contratar algum dia. Já tinha até feito as contas. As putas baratas corretas iam custar ainda mais caro que a bebida barata correta. O vestido anos 40, o chapéu e os cigarros sem dúvida seriam cobrados como um fetiche.

Bebia, bebia e martelava na máquina. Tentava escorrer a consciência como o sangue e as metáforas baratas nas ruas da cidade nua. Mas não conseguia desligar suas neuroses pós-industriais. E o calor, que o fazia suar como um dedo-duro dentro da cadeia, como devia suar na Califórnia.

Martelava, prendia os dedos e dava ânsias a cada gole, mas não conseguia ser pulp. Era impossível ser barato. Conseguiu se escorar até o banheiro, se desviando das luzes que colocou pelo caminho para conseguir a iluminação correta. Vomitou e desmaiou ao lado da privada, sabendo que nunca seria pulp. No mínimo um Raymond Chandler.

E teria que viver com isso.