30.4.02

Gentileza sob o Sol
30.04.02

Não consigo me livrar de você sob o sol. Por mais que tente, você contra o carro, o ar de desolação, o olhar no nada persistem. São a marca de um jogo encerrado. Ou outro – muito menos agradável – que começa. Você brilhando ao sol marcou o início do pior dos jogos: gentileza.

Sei que não era para mim que você estava lá. Que não era nenhum comunicado de fatos, mas a simples constatação de um estado em especial, sem se importar com quem assistia. Desolação ou vertigem, a razão não era importante. Mas era algo que não deveria ter visto.

Sabia que – de todos – era o único proibido de me aproximar. As regras da gentileza são muito claras, apesar de impossíveis de serem seguidas. Sufocar a curiosidade, ignorar a humanidade, tentar me desfazer do carinho. Fingir desprezar sua imagem sob o sol.

Tudo em nome do bom tom, do correto: das regras da gentileza.