20.2.02

Algodão Doce
Em 20.02.02

Eu só queria era um algodão doce.

Um pouco de açúcar para me animar. Esquecer um pouco da dieta e da alimentação correta. Ando tanto precisando me animar... Salada e peixe grelhado são ótimos; ver a barriga lisinha também – ou tão lisa quanto pode ficar. Pra depois ouvir uma história de simplicidade. Fica sempre faltando alguma coisa. Não é nem o sabor ou o dulçor, é mais a animação.

Dá pra perceber que quem me olha pensa o mesmo que eu: que algodão doce é coisa de criança. Que uma senhora de quase trinta não devia mexer com essas coisas. Dane-se. Eu queria algodão doce justamente por ser coisa de criança. Doce, colorido, impressionante e vazio. Calorias vazias, melhor. Quando eu era criança eles não eram tão grandes assim. Mal comecei a comer e já estou com sede, cansada. Mas não quero água. Quero aquele restinho que fica grudado no palito. Por que não para de me olhar? Ninguém mais entende o prazer de um algodão doce.

Algodão doce é bem melhor que chocolate. Chocolate é coisa de mulher largada, de trintona triste e me nego a assumir qualquer um dos dois papéis. Ficar assistindo filmes água com açúcar e chorando na frente da TV, bebendo vinho por faltar coragem pra beber algo que funcione... Tudo muito clichê. Se é pra encher a cara de açúcar, melhor algodão doce. Muito mais divertido, muito mais simples e bem menos arriscado. Afinal, cedo ou tarde o vendedor vai ter que ir embora. Eu podia passar a noite toda comendo chocolate. Mas depois de um algodão doce quem é que vai querer saber de açúcar?

Esse negócio dá mais sede do que eu lembrava. Também, deve ter quase dez vezes o tamanho do último que eu comi. Aliás, quando foi isso? Deve ter mais de dez anos, eu nem estava com ele ainda. Eles não tinham essas cores tão bonitas. Ou acho que estava. Foi aquela vez no parque de diversões? Lembro de ficar com o rosto grudado, sem um banheiro para poder lavar. Que coisa mais clichê ir namorar em roda gigante. Não, acho que foi maçã-do-amor. Mas eu nem gosto de maçã!

Eu devo estar muito engraçada, toda suja. Dá pra sentir os pedacinhos de algodão colados no rosto. Eu devia ir lavar, mas combinei de encontrar ela aqui. E ainda tenho muito chão pela frente, só dá pra ver o palito na pontinha. Então nada de dois beijinhos. Não suporto mesmo. Coisa mais sem graça, igual a outra lá. “Simplicidade”. E isso lá é motivo? Por que ele não admite logo que quer alguém mais nova e menos neurótica? E precisava me chamar de neurótica? Ele quer é uma mulherzinha clichê igual ela, que cozinhe e limpe e tenha filhos por ser a coisa a se fazer. Eu disse que ele vai se arrepender. Eu sei que vai. Deixa só eu terminar meu algodão doce.