15.8.01

Necrópole Pessoal - 2 de ?
em algum momento de 2000

Há muito tempo, segundo o próprio, ele vinha sendo assombrado por um amor antigo. Na maior parte do tempo, era fácil ignorar. Bastava se concentrar em outra pessoa e as coisas transcorriam sem muitos problemas.

Mas, ultimamente, tudo vinha se complicando. Ele tinha encontrado uma nova paixão. Mas, em momentos cada vez mais freqüentes, ele enxergava nela seu antigo amor. Os indícios iam se acumulando aos poucos. Num dia, o mesmo número na tintura de cabelo. Noutra noite, a mesma combinação de velas, música, taças e talheres de anos passados.

Não que ele desgostasse da situação: tinha saudades daquele amor morto. Mas já o tinha - dizia - enterrado. Mas queria viver o amor novo. Mesmo que só pelos medos dos erros antigos.

O fantasma distante foi dominando a situação atual a tal ponto que - durante algumas semanas - o amor do momento é que era a memória etérea.

Uma tarde de domingo assistiu, entre gemidos e corpos suados, o fantasma partir. Bastou um nome - certo ou errado - sussurrado uma única vez.