22.5.01

Diálogo I

- Que merda de metáfora é essa? – perguntou o personagem enquanto era escrito – Até você pode fazer algo melhor para refletir o fim de minha família, meu desemprego e depressão que uma casa caindo aos pedaços. Não dá pra pesar a mão um pouco mais, não? E você acha que está escrevendo o quê? Comédia?! Fazer um pedaço do gesso do banheiro cair na minha enquanto escovo os dentes depois de um pesadelo... francamente! Você quer que as pessoas empatizem comigo ou que riam?!

- O ideal é que fizessem um pouco de cada. De qualquer modo, eu não estou inventando nada: é um romance biográfico.

- Ceeeeeerto... E isso desculpa tudo! Se você acha que essa geladeira vazia é uma forma eficiente de demonstrar meu vazio interior, fique à vontade. Mas eu não vou participar mais disso. Eu me demito!

- Como é? Você não pode se demitir. Você não passa de um personagem inspirado em mim. Eu nunca me demitiria!! Acho melhor você desistir dessa idéia.

- Claro que posso me demitir! É meu direito!! Não importa se eu fui inspirado em você ou não – e você sem dúvida podia ter escolhido alguém melhor – eu não vou mais participar dessa história! Chega! Eu dei uma olhada em suas notas e sei que eu tenho que sair daqui agora e ir procurar emprego na chuva... Mas se você acha que eu vou contribuir com seus planos de monólogo interno, está muito enganado. Eu vou é voltar para a cama!

- Eu não faria isso se você. Não sei se você está lembrado, mas tudo em torno de você depende de mim. Se você não entrar nesse chuveiro agora, vai haver um pico de energia que vai detonar seu computador. Então é melhor você se arrumar e sair.

- Mas meu computador nem está ligado!

- Agora está. Você esqueceu. Já pro banho.

- Chantagista miserável!


(continua)