3.11.03

Sigilismo - Capítulo I

Sigilismo é o título provisório da minha tentativa de romance para o National Novel Writing Month. Este é o primeiro capítulo até agora. Tudo é temporário e pode ser modificado. Existe a possibilidade de que trechos selecionados apareçam aqui durante novembro.

Preso à máquina de escrever, ele começa a traçar seu caminho para fora dali. Ainda é muito cedo, mas ele sabe que em pouco tempo seus dedos vão estar doloridos pela falta de costume nessas antigüidades. Engrenagens que empurram os tipos gastos em direção à fita. A pancada contra o papel. O pequeno choque a cada vez que as palavras se movem. "Não é a melhor forma de escrever", pensa o escritor, que nunca usou outra coisa além de caneta ou computadores para escrever. Mas, se pudesse escolher alguma coisa, escolheria não estar ali.

Tinha que escrever seu caminho para fora. De uma forma compreensível o suficiente, proibindo sua caligrafia terrível. Caneta e papel permitiriam a sua mente passear por aí, diminuindo os efeitos do encanto. Precisava se concentrar nas palavras, tornar cada uma especial com seu esforço. Os dedos que logo começariam a doer seriam sacrifício o suficiente.

Apreciava a ironia. Finalmente tinha o tempo e o motivo para escrever. A vontade era pouca, o prêmio não era lá grande coisa, mas a oportunidade não podia ser desperdiçada. Mais que isso, tinha um cliente esperando que prestasse contas dos seus progressos, que explicasse tudo que acontecera nos últimos meses. Para isso, era necessário criar com palavras sua saída dali. Construir o lugar onde estava, esculpir rachaduras nas paredes que permitiriam que escapasse.

Fora por se deixar levar pelas palavras que acabara ali, preso por elas. Perdera seu foco, envolvido pela prosa e idéias de outros, esquecera quem era. Agora, ao se impor sobre as palavras, forçá-las a se dobrar sob sua vontade, sairia dali.

Não havia motivo para pressa, reconheceu quando seus dedos começaram a doer. O tempo não passava com a mesma velocidade ali. Enquanto lá dentro horas, dias e semana pareciam se acumular sem nenhuma mudança visível, lá fora - lá fora? - o tempo ficaria parado enquanto não passassem as páginas do livro.


Por sorte ele não cobrava por dia.