9.2.03

Sonho II
em 09.02.03

O azul do mar - exatamente seu tom favorito - não é nada natural. E a água não costumava ir até ali, até a calçada, ou ser tão parada. Sentado ali, na beira da piscina que ultrapassa o horizonte, você percebe que há algo errado. Como se o mundo tivesse mudado de repente enquanto você não prestava atenção. Mesmo assim, o sol se pondo causa uma certa paz.

Um bebê ou uma criança se aproxima, falando algo que você não consegue entender, mas é muito importante. Se ela parasse de desaparecer quando você se concentra nela, seria muito mais fácil entender. Ela fita seus olhos com uma piedade que destrói você e pula na água. A criança afunda devagar até o fundo e é possível vê-la durante todo o percurso, apesar das águas escuras. Você percebe que a criança precisa de ajuda e mergulha atrás dela.

No fundo, há restos bem conservados de uma cidade vagamente grega, mas cheia das imagens da vida moderna. Se não fosse o peso diferente e uns cardumes aqui e ali, você nunca perceberia que está sob a água. Procurando pela criança, você encontra um amor antigo, chorando tranqüila - lágrimas distintas da água. Você se aproxima, limpa uma lágrima e pergunta se está tudo bem. Ela responde e você se beijam.

Você percebe que precisa respirar e a convida para ir com você. Ela diz que não pode, mas você deve ir assim mesmo. "Nos vemos depois", você ouve enquanto flutua numa velocidade absurda. O impulso é suficiente para jogá-lo metros acima da água, como os saltos dos golfinhos. Enquanto enche os pulmões, você enxerga o bebê, voando ao longe. Enquanto desce, você procura pela mulher que deixou no fundo. A água vai ficando cada vez mais escura, os pulmões vão ardendo e você não consegue encontrá-la.