7.8.02

Girls as a Memetic Infection II
em 07.08.02 - (com meus cumprimentos a Grant Morrison)

Achavam que era amor. Mas não passava de ficção científica. Não que se pudesse notar a diferença. Essa era a idéia desde os planos, quando foi pensada para ser uma musa.

A idéia de criá-la foi de um diretor num departamento literário de um desses complexos de entretenimento. Sua linha de trabalho não permitia que criasse uma única “estrela”. Mesmo com a mudança de foco cada vez mais acentuada dos escritos para o escritor, vender livros ainda não era a mesma coisa que vender um filme ou a mais nova banda de J-Pop. Ter a aparência e estar carregado dos memes corretos não adianta muita coisa quando a maior parte do trabalho é feita num quarto fechado.

As técnicas do engenheiros meméticos eram muito eficientes em criar hype, mas não funcionavam muito bem para escrever livros. Individualmente, cada uma das idéias circulava bastante. Só que a história não funcionava e isso era tão perceptível que os memes nem chegam a se multiplicar. Pior ainda: eles ganhavam – como são criados para fazer – vida própria e deixavam o livro para trás.
O tal diretor percebeu o que eles precisavam: um meme que atraísse escritores.

Na verdade, um único meme não iria funcionar. Depois dos cursos de escrita de ficção, normalmente vinculados aos de crítica literária, qualquer escritor que juntasse três sentenças direitinho era capaz de desmontar um único meme em segundos. Além disso, técnicas de defesa memética começaram a se tornar corriqueiras justamente entre o perfil de consumo dos escritores.

A solução para o problema era clássica: o Cavalo de Tróia. Os memes viriam embalados em algo indispensável. Nem foi preciso pesquisa de mercado para decidir qual seria o veículo.

Claro, as primeiras meninas levariam anos para ficar prontas – no mínimo uns 15, com tratamentos hormonais e tudo. Mas, se as coisas dessem certo, elas seriam as máquinas perfeitas para identificar escritores e poetas. Além, de um jeito ou outro, garantir suas fidelidades aos seus editores.

Em retrospecto, tudo foi muito mais simples do que deveria ter sido. Não foi mais complicado criar as dez meninas do que seria criar qualquer outro grupo de crianças. O isolamento relativo no qual elas cresceram ajudou, do mesmo modo que as técnicas roubadas do exército, e a seleção dos embriões com as características desejáveis evitou revoltas ou tentativas de fuga. Afinal, elas não sabiam muito bem o que era planejado para elas.

Neurolinguística. Técnicas de meditação. Etiqueta corporativa. Mensagens subliminares. Tantra. Semiótica. Modulação de voz. Dança. A dose certa de musculação. Os cuidados com a pele. As experiências certas nas ruas. As memórias implantadas de estupros e paixões não correspondidas. As doses certas de Sol. Futilidade planejada. A quantidade exata de atenção e indiferença...

Milhares de anos de pesquisa. Milhões de dólares em tecnologia. Tudo para criar uma tropa de meninas fofas.

Os coitados não tiveram nenhuma chance.

(continua)