2.1.03

Diálogo Recursivo IV: Clichês
em 02.01.03

- Não é você. Sou eu.

- Puta que pariu. Você podia pelo menos arrumar algo mais original para dizer.

- Mas é verdade. Eu adoro você, mas não estou em condições de me envolver com ninguém agora.

- Tá. Tem mais alguma dessas coisas genéricas a me dizer?

- Pára com isso! Você está me deixando mal. Não precisa fiar triste.

- Claro que preciso ficar triste. É bem difícil encontrar alguém como você.

- Eu também vou sentir saudades de você.

- Vai nada. Ou não estaria me dispensando por impedimentos imaginários.

- Não são imaginários. São coisas minhas que não consigo explicar.

- Eu ficaria menos chateado se tentasse.

- É como se eu ficasse evitando gostar de você, me segurando por medo de machucar você. Mas você foi me envolvendo aos pouquinhos, mesmo que eu não quisesse.

- O nome disso é "seduzir".

- Não. Eu queria dizer de um jeito ruim.

- Ah, tá. Como se eu tivesse forçado você a qualquer coisa.

- Pára com isso. Eu não posso ficar com você agora. Minha vida está complicada demais.

- Como se me importasse sua vida e suas complicações.

- Como é?

- Pouco me importa sua decisão. O que você quer ou não. Você devia tomar cuidado com o que fala, se quer que eu desista de fato. Você já disse que gosta de mim. Que fica se segurando para não gostar mais. Que está confusa.

- É. Os motivos para você desistir.

- Nada disso. Os motivos para eu insistir. Você quer, mas tem medo. Ou teria agido de outro modo. E eu estou pouco me fodendo para seus medos. Nós vamos ficar juntos e pronto. Você não tem escolha.

- Claro que tenho. Não entendo essa sua insistência.

- Vai entender. Porque você é indecisa, volúvel, cheia de vontades contraditórias. E eu não. Sou muito decidido com as coisas importantes.

- As ?coisas importantes?? Você mal me conhece.

- E?! A questão toda se resume a uma disputa de força de vontade. Não de quereres, de possibilidades. E essa você já perdeu.

- Vamos ver.

- Você vai ver.

- Se você gosta de mim, devia me esquecer, moço.

- Eu não vou desistir de você ainda.

- Só não vai adiantar.

- Então tá. Até.

- Ah, vem cá.