Parábola III
em 22.10.02
Havia, no tempo em que céus e terras ainda não eram bem separados, um dragão enlouquecido. Nascido já adulto das pinturas de Chang Seng-Yu, faltava-lhe a sabedoria e comedimento de seus pares. Se comportava como uma criança, com o poder para mover céus e terras.
Era necessário prendê-lo novamente na pintura. Bastaria que alguém conseguisse roubar sua pérola e ordenasse que ele retornasse ao painel de onde nascera. Tarefa simples para um exército, mas eles estavam envolvidos em uma guerra distante.
Sobravam apenas alguns guerreiros esparsos, que passavam seus dias orando que o dragão nunca se aproximasse de sua cidade. Orar, afinal, era muito mais eficiente que atacar a fera brincalhona.
A situação progrediu por meses, até que um guerreiro desertor voltou das batalhas. Não podendo mais viver com a agonia de sua vergonha, decidiu que subjulgaria o dragão.
Atacou a criança de forma traiçoeira, num conflito breve, que terminou com um simples olhar da criatura.
Transformado em névoa, o guerreiro cumprira seu objetivo.